Está bom tempo hoje, não?
E, ao fim da tarde, depois de uma semana um tanto ou quanto «preenchida», decidimos ir dar uma volta para "desanuviar". Aliás, ele quis; já eu não estava com a mínima vontade, sinceramente. Mas vá,como há já algum tempo que eu não trazia nada de minimamente novo à minha rotina, lá decidi fazer-lhe a vontade.
Começámos pelos jardins. Sentámo-nos num banco, à sombra, a ouvir "Hey, hey, what can i do?" dos Led Zeppelin, e a nossa conversa iniciou-se quando eu larguei um: "Está mesmo bom tempo para se estar aqui hoje. E, vá lá, até nem está muita gente."
Ele roubou-me o Ipod, começou a dizer mal das músicas que eu ouvia enquanto sorria e, isso, foi o bastante para reavivar o sepulcro das nossas melhores memórias.
Ele: "Eish, lembras-te quando o Tiago trazia uma garrafa para aqui e começava a fazer os jogos parvos dele?"
Inevitavelmente, rimo-nos os dois. Aos poucos, fomos desenrolando todos os pormenores, todos os detalhes, e o resultado foi absolutamente surpreendente.
Falámos das nossas primeiras "saídas"; de nós próprios, dos nossos amigos, de como eles mudaram, de como NÓS mudámos. Comparamos tudo e nada. Lembrámo-nos desde as nossas brincadeiras de "Quem diz é quem é", dos momentos felizes que ali tinhamos passado, e dos tristes também.
Despejámos tudo o que carregavamos cá dentro, e rimos. Rimos tanto, daqueles risos que causam uma feliz «dor de barriga».
Quando olhámos para o relógio já se tinham passado mais de duas horas.
Ao fundo, o sol anunciava o recolher do Mundo, à medida que nos chegava o barulho do trânsito do regresso a casa. Decidimos ir embora e deixar todas as nossas confissões à guarda daquele velho banco de jardim, testemunho de tantas e quantas histórias.
Eu retomei o caminho para casa, e ele começou por tomar a direcção oposta, quando eu me lembro e grito: Hey, o meu Ipod?
Ele: "Devolvo-te amanhã. Ouvi dizer que vai estar bom tempo", e foi-se embora.
Enigmático, como sempre. Pois bem, amanhã lá estarei.