"A não ser para o amor. Corra sempre para o amor!"
“Bonito serviço, Catarina. Muito bem.” – Repetia eu mentalmente, pela enésima vez, perdida no desespero de chegar ao metro a horas.
Eu e a minha mania de “meter o Rossio pela Betesga”. Sim, porque eu sou a típica pessoa do “estou mesmo a chegar”, quando na verdade acabo de sair do banho e, enquanto o cabelo “seca e não seca”, ainda dá para ir lavar os dentes, fazer a cama, espreitar o site da meteorologia, ou apanhar a roupa. E, como devem imaginar, isso nem sempre corre da melhor forma.
Foi o que aconteceu naquele dia.
Já devia estar no estágio há imenso tempo, mas ainda tinha o pequeno-almoço para tomar e de ir tratar de uns assuntos antes de lá chegar. No meio da minha maratona matinal para entrar naquele que me levaria até ao meu destino, embati num idoso que levava vários livros e o típico jornalinho debaixo do braço.
“Desculpe” – disse eu e apanhei desajeitadamente algumas coisas do chão e continuei a minha corrida.
Mas, ao contrário daquilo que seria habitual, este senhor nem reclamou “dos jovens de hoje em dia”, nem me insultou, nem se pôs para ali a dissertar acerca da perda de valores da sociedade. Sorriu-me.
Finalmente cheguei ao metro. “Uau, um lugar sentada” – pensei.
Seitei-me então no lugar que me estava destinado, ao pé da janela – a sério, janelas de metro/autocarro/comboio são, definitivamente, o melhor (?) sítio para filosofar.
Nisto, começo a tirar os papéis para a minha apresentação que seria dali a mais ou menos 45 minutos, para os reler uma última vez.
Mas, para variar, não me valia de nada estar a tentar memorizar um discurso todo bonito, porque no fim acabaria sempre por sair uma improvisação de última hora. Então desisti. E, qual não é o meu espanto quando à minha frente estava o sujeito a quem derrubara os livros, instantes atrás.
“A menina devia andar com mais calma” – disse-me ele.
Eu esbocei um sorriso um bocado embaraçado, mas foi o que me saiu, porque conversas de circunstância nunca foram o meu forte.
“É que estou mesmo muito atrasada, e tenho compromissos importantes” – atirei eu para o ar.
E ele, responde-me: “Atrasada? Oh menina, oh menina. Esse é o mal de hoje em dia: andamos sempre todos atrasados; corremos atrás dos nossos compromissos. Para quê? Diga-me, para quê a urgência dos horários, o drama do atraso?”
“Realmente” – pensei para comigo. Mas acabei por responder: “Pois… sinceramente também não sei”.
Tínhamos acabado de chegar à minha paragem, e levanto-me, aprontando-me para sair.
E nisto, vira-se o senhor para mim: “Oh menina, não tenha pressa para nada. A não ser para o amor. Corra sempre para o amor!”