Catadupa interior
Um dia olhas para o Mundo. Começas a perguntar porque é que estás aqui e não além, porque é que te obrigam a pensar cinzento e não te deixam pensar às cores.
Questionas tudo, tens sede, energia para dar e vender. Tanta vida que nem cabe dentro de ti. Até a quereres partilhar com alguém.
No entanto, com o decorrer do tempo, começas a perceber que afinal não é tudo tão cor-de-rosa, e que as Histórias de Encantar que ouvias há um tempo atrás, não passavam de uma maneira de mascarar a realidade, que é bem mais crua e fria.
És esbofeteado(a) pela realidade. Desiludes e desiludem-te. Magoas e magoam-te. Provas o sabor da vitória e da derrota, da desilusão e da mentira.
Começas a deixar o teu casulo. Vais por ti próprio(a), pé ante pé, à procura de algo que nem nós próprios sabemos muito bem o quê. Do amor? Da felicidade? Da realização? Afinal de contas, deve ser esse o nosso objectivo enquanto por cá andamos.
Mas e depois? E depois quando percebemos que, afinal, não vamos ter connosco, para sempre, aqueles que amamos? E quando arranjares alguém que dependa de ti, e de mais ninguém? Acumulas responsabilidades, medos e esperanças. Quanto a esta última, já não estou tão certa. Mas perdoem-me as horas tardias e a voz que ofereci ao sufoco que se apoderou de mim. O que é certo é que o tempo passa, sem nenhuma condescendência.
Um dia olhas para trás e pensas: Vale a pena?
E eu quero agarrar esse dia com todas as minhas forças. Peço ao tempo que abrande. Mas ele não me ouve. Então, tempo, deixa-me tentar. Deixa-me ser qualquer coisa que ainda não sei. Deixa-me simplesmente ser.